Seu filho ronca?
23 out

Seu filho ronca?

Você certamente já ouviu a expressão “dorme como um bebê”. Quando ouvimos frases como essa, vem à nossa mente um sono tranqüilo. Naturalmente, você não imagina uma criança roncando, babando ou sem posição confortável para dormir. A criança que tem característica de sono agitada, que ronca, baba, nariz sempre obstruído, na maioria das vezes apresenta aumento da adenóide, um tipo de amígdala localizada atrás do nariz, vulgarmente chamada de 'carne esponjosa'. A adenóide, bem como as amígdalas e várias pequenas glândulas presentes no trajeto entre o nariz e a boca, fazem parte de um sistema de reconhecimento e defesa de nosso organismo. A função da adenóide e das amígdalas, é registrar os possíveis agentes agressores ao organismo que estão no ar, para formar sua defesa através dos anticorpos. Durante os primeiros anos de vida, a adenóide é normalmente grande porque a criança está aprendendo a se relacionar com o mundo exterior, captando, registrando e arquivando conhecimentos sob a forma de anticorpos. Essa atividade da adenóide é fundamental, mas, muitas vezes acaba por trazer complicações porque seu tamanho atinge níveis que se tornam prejudiciais ao bom desenvolvimento da criança.

Quando cresce muito, a adenóide pode inclusive, impedir totalmente a passagem de ar pelo nariz, o que ocorre principalmente à noite, porque o palato (céu da boca) cai sobre ela quando a criança se deita. O sono então se torna agitado. Sem respirar, a criança abre a boca, ronca, procura uma posição em que respire melhor, acorda com freqüência e muitas vezes só consegue dormir quase que sentada. O resultado imediato de toda essa dificuldade é aquela criança que pela manhã parece um urso em hibernação e você tem dificuldades para acordá-la. Crianças muito pequenas geralmente se comportam diferente frente a noites mal dormidas: ficam agitadas, com dificuldade paraem terminar qualquer atividade, quadro que muitas vezes é confundido com déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). Quando o quadro é dramático, os pais logo procuram o médico na procura de ajuda, mas os casos não tão evidentes são arrastados durante anos, podendo ter conseqüências desastrosas.

Para entender o que pode acontecer, devemos lembrar que a função do nariz não é a de simplesmente respirar, senão a respiração pela boca seria suficiente. Faça então um teste: inspire profundamente pelo nariz e sinta como é agradável a sensação de encher o pulmão 'inteirinho'. Agora, tente o mesmo pela boca. Não conseguiu, não é? Então você percebeu que a respiração nasal é importante para a sensação de satisfação respiratória. Isso porque o nariz possui uma função de filtro, aquecendo, umedecendo, retirando os agressores do ar que você manda para o pulmão. Há ainda um reflexo desencadeado pela respiração nasal, que determina a expansão de toda a caixa do tórax, para permitir o preenchimento completo do pulmão pelo ar. Quando você respira pela boca, o ar vai para o pulmão sem tratamento, podendo gerar infecções pulmonares ou crises de bronquite e também não consegue ocupar completamente todo o espaço disponível. Uma vez que a plena respiração só é conseguida pelo nariz, como você mesmo observou a respiração bucal não é suficiente para uma boa oxigenação do organismo. De fato, as crianças respiradoras bucais tendem a ser menores e estudos científicos demonstram que possuem rendimento escolar mais baixo que as respiradoras nasais. Tal fato é atribuído à falta de oxigenação cerebral, que retira da criança parte de sua possibilidade intelectual.

Existe ainda o fato de que o sabor dos alimentos está diretamente ligado ao seu odor. Quem não percebe a boca salivar na hora do almoço, quando sente um aroma gostoso de comida? Por não ter essa percepção, a criança respiradora bucal não tem bom apetite e seu desenvolvimento é comprometido. Um segundo aspecto a ser discutido é o acúmulo de secreções nas fossas nasais. Normalmente essas secreções são engolidas inconscientemente, mas a criança que tem uma 'rolha' atrás do nariz, não consegue. As secreções ficam paradas, servindo como meio de cultura para germes que podem agredir tanto o ouvido, levando às otites, como os seios paranasais, gerando as sinusites. As infecções tendem a se repetir, sendo esse mais um fator que compromete o bom desenvolvimento da criança. Um último problema a ser lembrado são as malformações faciais e de tórax em longo prazo. A passagem de ar pelo nariz é importante para a aeração dos seios paranasais, que vão formar os malares (bochechas). A tração dos músculos sobre a mandíbula, é também importante para o seu desenvolvimento adequado. A respiração bucal, além não gerar o estímulo que é preciso para o desenvolvimento dos ossos malares, impede que a criança mantenha a boca fechada, e, portanto a musculatura não faz as pressões necessárias sobre a mandíbula, que se torna hipodesenvolvida. A composição entre os dois problemas descritos, tem como resultado um rosto que se torna comprido e com a mandíbula curta. Em consequência ao mau posicionamento da língua durante o ato de engolir, o céu da boca torna-se alto e há desvio anterior da arcada dentária. Com o tempo, o tórax acaba se deformando pelo esforço contínuo em 'buscar' o ar.

Todas essas alterações podem ser prevenidas se tratadas adequadamente. Seu médico otorrinolaringologista tem meios de diagnosticar e tratar os problemas que levam à respiração bucal. Se o diagnóstico for aumento de adenóide, tranquilize-se: o tratamento é simples e gratificante. Muitas vezes está indicada a retirada cirúrgica, com resultados que parecem milagrosos e são percebidos no mesmo dia da cirurgia. Portanto, se seu filho for uma dessas crianças, procure orientação especializada e veja como é fácil ver seu filho dormir como um bebê.